domingo, 9 de dezembro de 2007

O maravilhoso mundo das árvores






A árvore é o ser vivo mais belo de todos, o mais inefável, o mais resistente, o que acolhe e dá mais vida. A minha admiração pela árvore determinou que desenvolvesse mais um tema no coleccionismo de pacotes de açúcar, a que entrego muito carinho e atenção redobrada. Não me interessam as séries de pacotes de açúcar que versem este tema, algumas de circulação genuína, outras produzidas propositadamente para coleccionadores. Interessam-me os pacotes de açúcar que revelem verdadeiro respeito e amor por este ser vivo: o que terá levado determinado empreendedor a atribuir o nome de uma árvore ao seu hotel, restaurante ou bar senão uma verdadeira admiração pela mesma? É este sentimento que com eles partilho e que aqui, neste texto e na minha colecção, quero sublinhar.
Os exemplares que aqui vos mostro testemunham a riqueza cultural que releva destes objectos de coleccionismo: o cuidado do desenhador em ser fidedigno para com o objecto retratado; o desafio colocado ao coleccionador pelo número de línguas que tem que interpretar (quatro, nesta amostra: castelhano, galego, catalão e francês) e pelo trabalho de pesquisa que necessita de efectuar para saber se determinada palavra corresponde ao nome de uma árvore desconhecida; a interpretação do valor cultural atribuído por determinado povo a esta ou aquela espécie arbórea (o carvalho na Galiza, a oliveira em Marrocos, o flamboaiã no México...)... Em suma, e por muito surpreendente que isto possa parecer, coleccionar estes objectos pode tornar-se uma verdadeira paixão e um processo de construção de saber riquíssimo.
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quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Portugueses, consumidores de café...

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É voz corrente, entre nós, que somos campeões no consumo de café; mais: que o nosso café é dos melhores do mundo. Faz parte da alma lusa a vanglória persistente em ser-se o melhor nisto, naquilo e naqueloutro, sem um conhecimento avalizado da realidade...
Se é verdade que o nosso café expresso é de muito boa qualidade (e o meu palato, pelo privilégio que teve de cirandar um pouco por esse mundo fora, é testemunha disso), quanto ao sermos cafeinómanos imbatíveis, não sabia nem imaginava os verdadeiros números. E como sempre, os nossos amigos pacotes de açúcar não nos deixam na ignorância. Desta vez, um pacotinho dos cafés Baqué, do País Basco, tem a honra da difusão do saber. Engulamos em seco, se faz favor:

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sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Campanha de sensibilização ambiental em pacotes de açúcar

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Assim, sim, vale a pena coleccionar pacotes de açúcar. O município de Setúbal encetou uma campanha de consciencialização ambiental, de protecção do seu património natural, e, pois claro, lembrou-se dos nossos "amigos" como meio de sensibilização. O pacote na imagem - e o cabeça de cartaz de uma série de 5 - mostra aquela que é, indiscutivelmente, "uma das mais belas baías do mundo". Sobretudo para quem a observa da Serra da Arrábida, do lado oposto ao retratado neste pacote (e que podem observar na fotografia em baixo), com a língua de terra da Península de Tróia ao fundo - um sortilégio da natureza sem paralelo.
Resta esperar que cada pacotinho de açúcar desta série possa significar menos um papelinho deitado ao chão, menos uma lata abandonada. Mas mais importante do que isso, que possa tocar a consciência daqueles que por descuido ou insensibilidade ambiental contribuem para a degradação do nosso planeta, da bela baía de Setúbal.
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segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Manifesto: o que é um pacote de açúcar?

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O presente manifesto surge da minha obrigação como coleccionador de contribuir para a elaboração de uma definição exacta do que é o objecto coleccionável denominado pacote de açúcar, numa altura em que surgem milhares de objectos semelhantes que com ele se confundem. Parte deste texto foi já partilhado numa mailing list dedicada a este campo de coleccionismo.
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Como qualquer outro objecto, um pacote de açúcar tem necessariamente uma função: primeiro que tudo, a de adoçar uma bebida (ou, menos frequentemente, um preparado culinário); em segundo lugar, quase sempre, serve também de veículo publicitário, respondendo a uma intenção genuína de uma qualquer entidade ou entidades. Para que a sua função seja levada a cabo, o pacote de açúcar tem de circular, de ser disponibilizado ao público.
Não é relevante quem cria, imprime, embala, promove ou distribui o pacote de açúcar (a não ser para quem, como coleccionador, privilegie este ou aquele parâmetro), mas sim que ele desempenhe a função para que foi criado, só assim fazendo jus ao seu nome.
Nos últimos anos, em particular em países como a Itália, a República Checa e a Espanha, e mais recentemente em Portugal, têm surgido milhares de objectos semelhantes a pacotes de açúcar, quase exclusivamente na forma de séries, ou colecções, que são produzidos de per se, isto é, sem qualquer função, muito menos a acima descrita, e promovidos frequentemente por agentes próximos do coleccionismo de pacotes de açúcar. Objectos destituídos de função, por muito criativos ou tecnologicamente avançados que sejam; poderão ser tudo, não são de certeza pacotes de açúcar, mesmo que por conveniência sejam embalados com a doce substância (muitos já nem isso o são). Fazem lembrar as notas do Monopólio, com um carácter figurativo, fictício; mas, e isto é que é grave, têm sido utilizados com um valor transaccionável real.
Tudo é transaccionável quando tem procura - e este é que é o verdadeiro problema: quando as pessoas não são capazes de reflectir sobre o objecto que têm nas mãos, arriscam-se a que, quando olhem para elas com mais atenção, não vejam nada. Pelo menos que não vejam o objecto a que se supõe tenham atribuído um valor estimativo que os tenha conduzido ao acto de coleccionar.
Porque é disto que falamos: só se colecciona quando se tem estima pelo objecto coleccionado. E essa estima tem sempre origem num qualquer episódio da nossa vida, por mais insignificante que seja. Convido-vos e realizarem este exercício de imaginação: o primeiro coleccionador de pacotes de açúcar - quem terá sido? Nunca o saberemos, certamente. Mas o que o terá levado a coleccionar pacotes de açúcar? Terá certamente achado graça ao objecto que acompanhava a sua bebida preferida, à história que contava ou ao motivo que exibia. Teria ele achado tanta graça (a suficiente para despertar a paixão pelo seu coleccionismo) a esse mesmo pacote de açúcar, por muito belo ou interessante que fosse, se não viesse acompanhado da sua bebida preferida?
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segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Marcas de Café Portuguesas Internacionalizadas

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Mais uma viagem pelo mundo dos pacotes de açúcar. Desta vez, sentado ao computador, com a companhia de um scanner e de muitos apontamentos. Uma viagem de centenas de horas, de recuos e avanços, consultas infindáveis no google, a ajuda de alguns amigos (não posso deixar de referir, cada um a seu modo, o José Luis Salguero, o José Manuel Pereira, o Romeu Lopes, o Paulo Araújo, o António Campos e a Fátima Mariano) ... Extenuante. Igualmente enriquecedora.

É o primeiro catálogo de pacotes de açúcar exclusivamente dedicado às Marcas de Café Portuguesas Internacionalizadas, o meu tema de eleição. Com edição do CLUPAC, o catálogo foi distribuido gratuitamente a todos os participantes no Portsugar 2007, no passado dia 15; chegará também às mãos de todos os sócios do CLUPAC que aí não estiveram presentes e a todos os novos sócios deste clube. Assim como a todos quantos me ajudaram nesta difícil tarefa.
O conteúdo do catálogo será objecto de actualizações trimestrais ou semestrais. Mais informações neste blogue e no sítio do CLUPAC em breve.
Com o desejo de que vos possa ser útil.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

"El Gordo"

O meu amigo José Luis Salguero, mais uma vez, presenteou-me com matéria para um apontamento no Viagens com Açúcar.
Não passará certamente pela cabeça da maioria de vós que um pedacinho de papel apreciado por um punhado de tontos poderia render uma soma engraçada, sem que para isso tivessemos que mover um alfinete - bastaria um cafézinho relaxado numa cervejaria de Madrid em Dezembro de 1997. E claro, uma boa dose de sorte - que muito provavelmente não nos caberia...
Ou não coube aos clientes do El Pescador, presenteados com um fac-símile de um bilhete de lotaria na forma de pacote de açúcar, com o valor parcelar de 5 pesetas - que, nas boas graças do Menino Jesus, equivaleria a um milésimo do prémio da lotaria de Natal desse ano (não consegui confirmar, mas cada décimo custaria 5000 pesetas).
Infelizmente, o número sorteado foi o 43728. Mas pela ideia genial, arbitrariamente democrática, bem merecia que fosse o estampado neste fantástico pacote de açúcar.
No mundo do coleccionismo de pacotes de açúcar a criatividade não tem fim.

sábado, 7 de julho de 2007

A nova diáspora

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Hoje, o meu amigo Paulo Araújo foi à caça de pacotes de açúcar por terras espanholas, junto à raia alentejana - uma boa desculpa para um passeio de fim de semana. Em Valencia de Alcântara parou numa cafetaria que ostentava um toldo dos Cafés Silveira. Dentro do estabelecimento constatou que a marca de café ali comercializada já era outra: Cafés Cubano. Pediu um café. Para seu espanto, veio servido numa chávena dos Cafés Delta. Esta, por sua vez, admiravelmente, descansava num pires dos Cafés Camelo. Soube-lhe bem o café, certamente.
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sexta-feira, 22 de junho de 2007

Historia de unos sobres de azúcar (ou "La Chica de la Tele")

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As Viagens com Açúcar também acontecem aos outros. Por isso, dou a palavra ao meu amigo José Luis Salguero, de Badajoz, que partilhou comigo esta história. Como direitos de autor, prometo conseguir-lhe os pacotes em falta na série referida.
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Como sé que te gustan las historias, te voy a contar una que quizás te resulte interesante sobre personas honestas y alguna no tanto.
Te he hablado alguna vez de mi amiga la que trabaja en Mérida, yo la llamo "la chica de la tele" porque trabaja en el canal de televisión extremeño.Pues bien, ella y su pareja se van acordando de mi y de sus colecciones cada vez que salen de viaje y me van guardando todo lo que encuentran.
Recientemente se escaparon un día a Caparica y visitando un mercadillo de antigüedades, le vieron a un vendedor unos pacotes de animales que les gustaron mucho. Al interesarse por ellos, el señor les dijo que eran muy bonitos y que era una serie muy antigua (por lo menos de los años 60). No pudieron resistir la tentación y los compraron para regalármelos.
El vendedor en cuestión es el señor no tan honesto de esta historia, pues la serie ni era tan antigua como decía ni la serie estaba completa; pues es una serie de Alcántara del zoo de Lisboa de especies amenazadas y había 7 pacotes en lugar de los 10 que componen la serie.
Pero bueno, este es el principio de la historia.
Siguieron disfrutando de la ciudad y pasando un día estupendo hasta que se pararon en un pequeño restaurante de la ciudad que se llama "Delícias da Praia" y entre charla y cerveza, sacaron los pacotes para mostrárselos a unos amigos que iban con ellos. Y así transcurrió el día alegremente hasta que llegaron de vuelta a Badajoz y ¡Oh! se dieron cuenta que se habían quedado olvidados los famosos pacotes encima de la mesa del restaurante. ¡Que desastre!, la ilusión con la que los habían conseguido se desmoronaba.
Pero "la chica de la tele", que es una chica con recursos ilimitados, se puso manos a la obra para intentar recuperarlos.
Llamó por teléfono al restaurante y le contó la odisea con la esperanza de que al recoger la mesa no los hubieran tirado o alguien no se los hubiera llevado.El señor del restaurante (esta es la persona honesta de la historia), muy amablemente le dijo que efectivamente los habían visto y los habían guardado; que no se preocupase que se los tendrían reservados para cuando pudieran volver a recogerlos.
Al poco tiempo fue a Caparica la hija de José Manuel (es la pareja de "la chica de la tele") y se trajo los tan preciados pacotes que ahora ocupan un lugar en mi álbum a la espera quizás, de poder completar la serie algún día.
Un ¡Olé! por el señor del restaurante "Delícias da Praia" y otro por "La chica de la tele".
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Como tú bien dices, las colecciones son algo más que objetos inanimados que se guardan en algún lugar. Cada pieza tiene su historia y sus recuerdos.
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domingo, 10 de junho de 2007

Meu caro Watson...

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Há pacotes que nos chegam às mãos e nos deixam curiosos, inquietos. É o caso deste, feito pelos Cafés Valiente para a cafetería Los Valles, em Bielsa, Aragão, muito perto da fronteira com França.
As dúvidas iniciais surgem-me em catadupa: será parte de alguma série? Improvável, até porque tenho vários repetidos, o que seria uma coincidência. E a data 28-8-88, será a data do sorteio destes números? Se sim, por quê mandar fazer um pacote com os números sorteados naquele dia? Teriam os donos deste estabelecimento ganho o Bono Loto com esta combinação? Ou pertencerão apenas ao boletim vencedor registado no seu estabelecimento?
Nada como uma consulta rápida no google para confirmar as minhas suspeitas. Tenho dúvidas em encontrar esta informação com quase 20 anos, mas não é que a encontro mesmo! E que os números correspondem à data do sorteio!...
Por acaso estive em Bielsa no verão passado, mas antes deste pacote me chegar às mãos. Caso contrário, teria tido o descaramento de perguntar. Por outro lado, a ponta de mistério sobre a razão que levou à produção deste exemplar é estimulante; deixa-nos expectantes relativamente à hipótese de que nos cheguem às mãos outros pacotes igualmente intrigantes.
O coleccionador vive da curiosidade e da surpresa. Sem estes elementos, o acto de coleccionar carece de alimento que sustente a vontade e a perseverança necessárias ao acto de coligir. Mas se alguém passar por Bielsa, que um café solo sirva de expediente...
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sábado, 2 de junho de 2007

Paperantic, Vigo - I Salón del Coleccionismo: meio dia na vida de um coleccionador

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Hoje desloquei-me a Vigo na esperança de "desencantar" mais alguns exemplares de pacotes de açúcar para a minha colecção, cada vez mais tematizada. Soube na quinta-feira passada, por acaso, através de uma busca na internet, que se realizava no hotel NH desta bonita cidade das Rias Baixas uma feira de coleccionismo organizada por uma associação de comerciantes espanhóis de artigos de colecção em papel, a ASPAC. Embora o cartaz não anunciasse este tipo de objectos de colecção, também não excluía a hipótese de lá os podermos encontrar.
Estavam presentes uma dúzia de expositores de vários pontos de Espanha, com predominância da Catalunha. A apresentação das mesas era impecável: extremamente colorida e organizada. O marcador de livros alusivo à feira, ao lado, testemunha a alegria visual dos expositores. Predominavam os postais e as revistas de banda desenhada, mas também os calendários, as cintas de charutos e cigarrilhas, os cromos e pósteres publicitários. Pacotes de açúcar, infelizmente, nada. O máximo que consegui foi o contacto de um dos comerciantes, de Madrid, apenas para o caso de por lá passar... Outro comerciante revelou-me que por vezes também vendia pacotes de açúcar, mas apenas em lotes pequenos, não tendo trazido nenhum... Tornou-se evidente o lugar ocupado por esta modalidade de coleccionismo em papel na ordem de prioridades dos presentes.
Saí do NH Palácio e dirigi-me a pé, em passo de passeio, até ao casco velho da cidade, perto da zona portuária desportiva, na continuação da Plaza de Compostela. Procurava a loja de um antiquário que também negoceia artigos de colecção: Almoneda Altamira, em cujo site soube que teria alguns exemplares de pacotes de açúcar para venda. Infelizmente, o responsável pela loja não se dedicava a este apartado de coleccionismo, dispondo apenas de um lote de 400 pacotes que lhe tinham deixado para venda por 100 euros, o que é um montante exorbitante para uma compra "às cegas". O tom de voz do meu interlocutor, inversamente simpático quando comparado com o dos comerciantes presentes no Paperantic, revelava notoriamente a importância que dava a estes objectos de colecção. Felicidade a dele, loucura a nossa!
Estava a correr mal o dia... Mas não tencionava regressar de mãos a abanar; muito menos de estômago vazio. Abanquei numa esplanada frontal à Plaza de Compostela, ao longo da qual desfilavam barracas de bugigangas e artigos de artesanato; enquanto apreciava a elegante fauna local, despachei pausadamente - que contrasenso linguístico saboroso! - um bocadillo de jamón serrano, rematado com um café fraquíssimo (marca O Doñoso). Da leitura em diagonal do jornal regional Atlántico retive duas ideias: um cartoon que ironizava com a notícia de que em Espanha serão necessários, pasme-se, 200 mil novos professores até ao ano 2015 (a demonstrar que em Espanha, ao nível da educação, se trabalha a pensar no futuro); e uma nota editorial sobre a poluição brutal causada pelo fabrico de computadores portáteis, a provar que o chavão consagrado de que corporizam uma revolução tecnológica "limpa" está longe de ser verdadeiro.
Deixei passar o tempo... sob um céu acinzentado mas luminoso e uma brisa agradável; reflecti sobre a quantidade de galerias de arte e antiquários (cerca de uma dúzia num trajecto de cerca de mil metros) por que passei durante a minha caminhada pelas ruas de Vigo e antecipei um possível título para este post: Duelo Ibérico: pacotes de açúcar v. galerias de arte. Por ser sociológica e culturalmentemente polémico, acabei por decidir-me por outro mais suave.
De regresso a casa, antes de chegar a Valença, fiz um desvio para Tui, onde procurei outro antiquário que sabia negociar alguns objectos de colecção, o simpatiquíssimo Sr. José Trancoso. Mais uma vez sem sorte. Mas valeu a pena a paragem pela excelente meia hora de conversa que tive com este coleccionador de carros (não de miniaturas), rádios e máquinas fotográficas antigas (sabe-se lá onde arranja espaço para tanta maquineta!). Não me querendo deixar vir de mãos a abanar, o Sr. José fez questão de me levar ao café vizinho e de pedir pacotes de uma série espanhola com fotografias de catedrais que já lá tinha visto: mas restavam apenas dois exemplares no fundo do cestinho dos pacotes... Valeu pela simpatia.
Hora de almoço: resolvo ficar por Valença. Esperava-me o Solar do Bacalhau, que aconselho vivamente (leia-se a crónica no Viandante, aqui ao lado).
Desta meia dúzia de horas de busca infrutífera por pacotes de açúcar com real interesse para mim, três registos: cerca de 50 euros de despesa (!); pessoas maioritariamente simpáticas; e um almoço excelente. Mas também: um punto de libro e um palito para o meu amigo José Luís Salguero; um guardanapo para o amigo Romeu Lopes; palitos para os amigos Domingos Ferreira, Isabel Mendes e Adriano Monteiro; e um rótulo de vinho... um rótulo... alguém colecciona rótulos?


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domingo, 27 de maio de 2007

Brio Profissional

O ano passado, creio que numa segunda-feira de Primavera, quando saía da escola após mais um dia de trabalho, a funcionária de serviço na portaria chamou-me. O meu colega Eugénio tinha-lhe deixado uma coisa para me entregar, pois tinha-me procurado mas não me tinha visto. Ora aí vêm mais uns pacotinhos, disse para os meus botões, expectante. O Eugénio tinha-me dito que iria passar o fim-de-semana à Galiza e que me traria os exemplares que pudesse apanhar.
Afinal era apenas um - e chegava-me às mãos com esta particularidade extraordinária: tal como um passaporte, recebera um carimbo de trânsito na portaria da Escola Secundária/3 de Ponte da Barca. Irrepreensível! Tanto, que nem quero imaginar o que teria passado pela cabeça da prestável e eficiente senhora:

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Hostal Mirabel: uma história de doidos varridos e gente simpática

Primeira semana de Dezembro de 2006. Acabámos de passar uns dias em casa de uns amigos em Elvas e, pelas duas da tarde, prestamo-nos a efectuar os cerca de 500 quilómetros de regresso a casa. Comento com a minha esposa a hipótese de fazer um desviozito para tentar arranjar um pacote de açúcar de "exportação" que me andava a escapar. Hesitamos. Temos tempo, mas... Ainda conferenciávamos, já em viagem, à saída de Elvas, quando no momento em que tinha que virar o carro para um lado ou para o outro, decido: "vamos lá... aproveitamos e damos um passeio." Os coleccionadores são óptimos a inventar desculpas, sobretudo se encobrem um desvio que pode redundar em mais 250 quilómetros de estrada... Doidos varridos, dirão vocês.
O pacotinho em questão era, então (e agora, ainda), desconhecido da maioria dos coleccionadores portugueses. E provavelmente já estaria fora de circulação: um pacote elaborado pela Novadelta para o Hostal Mirabel, sito em Riolobos, Cáceres. Em Badajoz distraímo-nos e em vez de seguirmos directamente para Cáceres continuamos para Mérida, o que acrescentou algumas dezenas de quilómetros ao passeio. Mas o tempo estava agradável e pudemos desfrutar da paisagem. Chegámos ao Hostal Mirabel sem grande dificuldade, alguns duzentos e tantos quilómetros depois. Hora para um chá e o momento da verdade.
O estabelecimento engloba uma estação de serviço pequena e uma residencial e bar-restaurante com apresentação algo desleixada. Sentámo-nos numa das mesas e enquanto esperávamos por ser atendidos apercebo-me de que estou com azar. Os pacotes rasgados espalhados pelo chão (um hábito menos bonito dos espanhóis, especialmente no centro e sul de Espanha) não são os que procuro. São de uma série da Candelas parecida com outra que circulava em Portugal. Portanto, sem interesse para mim. Ao balcão estão dois jovens adultos com aspecto pouco cuidado mas notavelmente activos. Enquanto tomávamos o chá tento elaborar uma estratégia para abordar um dos membros do casal. Escolho o homem, aparentemente mais simpático - talvez pelo rabo de cavalo.
Na mouche! Pego no meu portátil e com o ficheiro "procuro" dos pacotes de exportação já aberto dirijo-me ao balcão. Chamo o sujeito e alerto-o para que lhe ia fazer um pedido pouco comum; explico-lhe que sou coleccionador de pacotes de açúcar, perguntando-lhe se por acaso ainda não teriam o pacote em questão, que ele reconhece pela imagem... Mala suerte! Há cerca de três anos que tinham mudado de marca de café... que lamentava, remexendo na gaveta dos pacotes por baixo da máquina de café, abanando a cabeça. Entretanto chama a mulher (aparentemente esposa) e mostra-lhe a imagem do pacote. Também acha que não... Mas acrescenta: puede que en el comedor, apontando com um gesto da cabeça para o piso superior. O homem (provavelmente o dono do estabelecimento) pede-me um momento. Enquanto atende um cliente, outro que estava sentado ao balcão e que escutara a conversa comenta comigo o curioso que é coleccionar pacotes de açúcar... que não conhecia ninguém... Explico-lhe que em Portugal há centenas de coleccionadores, e que procuram em particular os pacotes da Delta...
Entretanto, o presumível dono já sumira pelas escadas acima, tendo dado instruções à mulher para procurar na cozinha. Uns minutos depois (longos, como imaginam) chega de mãos vazias, lamentando sinceramente não poder ajudar-me. Para minha surpresa, pede-me o meu endereço, para o caso de que venha a encontrar algum lá em casa, pois por vezes metem alguns pacotes ao bolso... mas que será difícil. Agradeço-lhe e deixo-lhe a minha morada. Paguei-lhe os chás e deixei-lhe uma gorjeta equivalente, que não queria aceitar. Insisti. Despedimo-nos e regressámos ao carro, agradavelmente surpreendidos pela prestabilidade do casal. Mas fiquei, naturalmente, desiludido. Mais ainda pelos longos quilómetros que ainda nos restavam fazer, já sob uma chuva intensa e quase a escurecer.
Passaram-se mais de cinco meses. Entretanto, acabei por arranjar, por troca, 4 exemplares magníficos do dito pacote. Hoje, ao princípio da tarde, abro a caixa do correio e deparo com um envelope almofadado, pardo, com origem no Hostal Mirabel. A adrenalina disparou. Dentro vinham dois pacotes ainda cheios, ligeiramente sujos - sinal de que haviam sido encontrados por detrás de algum móvel ou maquineta. Gente simpática! É por estes episódios que vale a pena coleccionar. O "responsável" por esta viagem com açúcar é este:

sábado, 12 de maio de 2007

E se o seu café vier com um especialista?

Prepare-se, pois um dia destes pode ser surpreendido ao tomar o seu café. E se tiver um pouco de azar, ter ainda necessidade de gastar algumas dezenas de euros com que não contava. Aqui tem dois dos malandros, um deles alemão - já traduzido para não se sentir ainda mais perdido. Boa sorte!


O teste de visão
mais doce do mundo.
Mantenha este pacote de açúcar
a uma distância de cerca de 30 centímetros dos seus olhos.
No caso de não conseguir ler estes caracteres, aproveite este pacote como
vale-desconto para um teste de visão na
Optic Bremer

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segunda-feira, 7 de maio de 2007

Una Flor para Elvira

6 de Agosto de 2006. Barcelona. Após uma visita ao lindíssimo Parc Güel e um rápido telefonema à Elvira, combinamos encontrar-nos no Café Zurich, na Plaça de Catalunya. A Elvira Camacho é uma coleccionadora catalã com quem efectuava trocas há alguns meses. Tendo planeado uma passagem por Barcelona, logo agendámos um encontro para nos conhecermos pessoalmente. À hora aprazada, lá nos encontrámos, cada um com a sua "lembrança": um envelope cheio de pacotes de açúcar, cuja cor servia também para nos identificarmos na imensa esplanada do Café Zurich. Foi ela quem me viu em primeiro lugar. Estava acompanhada de duas amigas, a quem nos juntámos para um café.
Passados os primeiros momentos de impasse nestas situações, fez-se notar o sentimento patriótico da Elvira, quando disse ao empregado de mesa que queria uma Mahou (das poucas cervejas espanholas que me agradam). Una Mahou?!!!, exclamou. Não tendo sido um ultraje, foi notoriamente um passo em falso no escorregadio mundo da etiqueta. Fiquei a saber que a saborosa Mahou é uma cerveja madrilena!!! E também que não a serviam ali, pelo que me contentei com a razoável San Miguel, uma cerveja originária de Lérida - portanto, catalã. Por ironia, uma consulta rápida no google revelou-me que a marca já havia sido adquirida pelo grupo Mahou em 2000. Mas num mundo globalizado como o nosso, isso são pormenores. Portanto, San Miguel e ponto final. E soube bem. O que acontece sempre quando a companhia é boa! A conversa de quase duas horas resvalou para todos os temas possíveis (do Futbol Club Barcelona à problemática da emigração), sendo a defesa da cultura catalã uma pedra de toque permanente nas intervenções da Elvira e das amigas. E o engraçado é que viemos a saber no final dessa tarde que a Elvira era originária do sul de Espanha, da região de Cádiz, estando radicada na Catalunha há bastante tempo - o suficiente para se lhe ter entranhado no sangue. Para dizer a verdade, é difícil Barcelona e a Catalunha não tocarem quem quer que passe por lá.
Despedimo-nos nas Ramblas, entre correntes de gente a caminho do final de tarde e da movida. Até um dia destes - porque coleccionar também é conviver.
Nota: o stick de açúcar que introduz este texto foi recolhido no Café Zurich.

sábado, 28 de abril de 2007

O Incansável Chema

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5 de Agosto de 2006. Após mil quilómetros de estrada desde Arcos de Valdevez em direcção a Barcelona, parámos para jantar nos arredores de Tárrega. Não foi uma paragem ao acaso. Planeei o trajecto e o horário de modo a chegarmos aqui pela hora do jantar. Objectivo escuso: retemperar forças no restaurante Rogetó.
O meu tema de eleição no coleccionismo de pacotes de açúcar são os exemplares de marcas de café portuguesas internacionalizadas; para os menos conhecedores, pacotes de marcas de café como Delta, Camelo, Silveira, etc que circulem no estrangeiro. Tinha conhecimento da existência de um exemplar dos Cafés Camelo feito propositadamente para este restaurante, pelo que a paragem cirúrgica visava juntar o útil ao agradável. Chegar ao Rogetó é tarefa quase impossível sem que seja feito trabalhinho de casa, com ajuda dos imprescindíveis MapQuest, Mappy ou ViaMichelin; isto, claro, para quem não disponha de GPS. Está situado junto a uma bomba de gasolina na zona industrial de La Canaleta, na saída norte de Tárrega; por aqui terá passado um camionista português que revelou a existência do referido pacote.
O estabelecimento é amplo e cheio de luz, com uma estrutura semelhante a alguns restaurantes de fast food; estava limpíssimo e cheirava a fresco, como se tivesse sido inaugurado naquele dia. Sentámo-nos e passado um minuto ou dois fomos atendidos por uma jovem (asturiana, soubemos depois), a quem, em primeiro lugar, perguntámos quanto tempo nos restava até Barcelona e se sabia como chegar directamente ao Gran Hotel Torre Catalunya; foi requisitada a presença do empregado da "barra", de nome Chema, que já antes tinha perguntado à minha esposa, em trânsito para os "aseos", se éramos irlandeses (não sei se pela língua excessivamente consonântica que nos ouviu falar, se por me tomarem, como já é habitual, por britânico, ou se pelo cabelo ruivo e desgrenhado da nossa amiga Rosário; provavelmente pelas três razões)!
De aparência relaxada e sorridente, de como quem está de bem com a vida, Chema indicou-nos no mapa, pormenorizadamente, com referência a radares e reclamos luminosos de outros hotéis, o trajecto a seguir já dentro da cidade de Barcelona. Depois de lhe agradecermos, regressou ao seu posto, onde retomou a conversa com outro cliente. Não esperei muito tempo: aproveitei a simpatia do catalão e dirigi-me de imediato ao balcão e contei-lhe por que razão vieramos jantar precisamente àquele restaurante, explicando-lhe que era "coleccionista de sobres de azúcar" da marca Camelo, ao que me respondeu, incrédulo, com vários "Hostia!, Hostia!" e, prestável como poucos, cerca de 40 exemplares do almejado pacote (e 5 outros com colher, que não dos Cafés Camelo)! Regressei à mesa regalado da vida. Cheers to Chema!

Mas as emoções ainda não tinham acabado: dávamos marcha a uns calamares e um chourição, regados com a San Miguel que o calor e a secura de mil quilómetros percorridos exigia quando, com as mãos fechadas juntas ao regaço, a asturiana nos traz 5 exemplares de um pacote genérico da Camelo, embalado pela Bara Esquerra, e que também era procurado por muitos coleccionadores em Portugal. À mesa só havia sorrisos. Mais extraordinário ainda foi o pacote que nos chegou de seguida pelas mãos do próprio Chema: um exemplar de um pacote dos Cafés Tolesa (marca espanhola) com publicidade ao mesmíssimo Roguetó, anterior ao do Cafés Camelo, resgatado pelo nosso incansável amigo por detrás da máquina de café - necessariamente sujinho de velho e da amarga bebida! Não era um pacote especialmente interessante para mim, a não ser pela possibilidade do relato que aqui se conta e pelo que revelava da atitude de Chema.
Jantar memorável! À saída, thumbs up! para o Chema, que, do balcão, parecendo ainda mais extasiado que nós, nos respondeu do mesmo modo.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

A Primeira Pedra

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Está erguida a primeira pedra deste blogue: a escolha de um visual adequado. O mais difícil será a actualização regular dos seus conteúdos, que estarão circunscritos a histórias (episódios, viagens, curiosidades...) relacionadas com o coleccionismo de pacotes de açúcar e à divulgação de objectos de colecção. Mas sempre com a ambição de que os textos sejam do interesse de todos os que visitem este espaço: o pacote de açúcar como um pretexto para viajar no nosso mundo.
Para quem nunca visitou o Viandante, blogue do mesmo autor e do qual este é uma consequência, sugiro a leitura dos três posts incluídos na rubrica "Histórias do Açúcar", e que são um exemplo do tipo de relatos que pretendo aqui publicar (embora em formatos diferentes):
Boas leituras! E que fiquem com vontade de voltar.