.
5 de Agosto de 2006. Após mil quilómetros de estrada desde Arcos de Valdevez em direcção a Barcelona, parámos para jantar nos arredores de Tárrega. Não foi uma paragem ao acaso. Planeei o trajecto e o horário de modo a chegarmos aqui pela hora do jantar. Objectivo escuso: retemperar forças no restaurante Rogetó.
O meu tema de eleição no coleccionismo de pacotes de açúcar são os exemplares de marcas de café portuguesas internacionalizadas; para os menos conhecedores, pacotes de marcas de café como Delta, Camelo, Silveira, etc que circulem no estrangeiro. Tinha conhecimento da existência de um exemplar dos Cafés Camelo feito propositadamente para este restaurante, pelo que a paragem cirúrgica visava juntar o útil ao agradável. Chegar ao Rogetó é tarefa quase impossível sem que seja feito trabalhinho de casa, com ajuda dos imprescindíveis MapQuest, Mappy ou ViaMichelin; isto, claro, para quem não disponha de GPS. Está situado junto a uma bomba de gasolina na zona industrial de La Canaleta, na saída norte de Tárrega; por aqui terá passado um camionista português que revelou a existência do referido pacote.
O estabelecimento é amplo e cheio de luz, com uma estrutura semelhante a alguns restaurantes de fast food; estava limpíssimo e cheirava a fresco, como se tivesse sido inaugurado naquele dia. Sentámo-nos e passado um minuto ou dois fomos atendidos por uma jovem (asturiana, soubemos depois), a quem, em primeiro lugar, perguntámos quanto tempo nos restava até Barcelona e se sabia como chegar directamente ao Gran Hotel Torre Catalunya; foi requisitada a presença do empregado da "barra", de nome Chema, que já antes tinha perguntado à minha esposa, em trânsito para os "aseos", se éramos irlandeses (não sei se pela língua excessivamente consonântica que nos ouviu falar, se por me tomarem, como já é habitual, por britânico, ou se pelo cabelo ruivo e desgrenhado da nossa amiga Rosário; provavelmente pelas três razões)!
De aparência relaxada e sorridente, de como quem está de bem com a vida, Chema indicou-nos no mapa, pormenorizadamente, com referência a radares e reclamos luminosos de outros hotéis, o trajecto a seguir já dentro da cidade de Barcelona. Depois de lhe agradecermos, regressou ao seu posto, onde retomou a conversa com outro cliente. Não esperei muito tempo: aproveitei a simpatia do catalão e dirigi-me de imediato ao balcão e contei-lhe por que razão vieramos jantar precisamente àquele restaurante, explicando-lhe que era "coleccionista de sobres de azúcar" da marca Camelo, ao que me respondeu, incrédulo, com vários "Hostia!, Hostia!" e, prestável como poucos, cerca de 40 exemplares do almejado pacote (e 5 outros com colher, que não dos Cafés Camelo)! Regressei à mesa regalado da vida. Cheers to Chema!
Mas as emoções ainda não tinham acabado: dávamos marcha a uns calamares e um chourição, regados com a San Miguel que o calor e a secura de mil quilómetros percorridos exigia quando, com as mãos fechadas juntas ao regaço, a asturiana nos traz 5 exemplares de um pacote genérico da Camelo, embalado pela Bara Esquerra, e que também era procurado por muitos coleccionadores em Portugal. À mesa só havia sorrisos. Mais extraordinário ainda foi o pacote que nos chegou de seguida pelas mãos do próprio Chema: um exemplar de um pacote dos Cafés Tolesa (marca espanhola) com publicidade ao mesmíssimo Roguetó, anterior ao do Cafés Camelo, resgatado pelo nosso incansável amigo por detrás da máquina de café - necessariamente sujinho de velho e da amarga bebida! Não era um pacote especialmente interessante para mim, a não ser pela possibilidade do relato que aqui se conta e pelo que revelava da atitude de Chema.
Jantar memorável! À saída, thumbs up! para o Chema, que, do balcão, parecendo ainda mais extasiado que nós, nos respondeu do mesmo modo.
Sem comentários:
Enviar um comentário