.
Hoje desloquei-me a Vigo na esperança de "desencantar" mais alguns exemplares de pacotes de açúcar para a minha colecção, cada vez mais tematizada. Soube na quinta-feira passada, por acaso, através de uma busca na internet, que se realizava no hotel NH desta bonita cidade das Rias Baixas uma feira de coleccionismo organizada por uma associação de comerciantes espanhóis de artigos de colecção em papel, a ASPAC. Embora o cartaz não anunciasse este tipo de objectos de colecção, também não excluía a hipótese de lá os podermos encontrar.
Estavam presentes uma dúzia de expositores de vários pontos de Espanha, com predominância da Catalunha. A apresentação das mesas era impecável: extremamente colorida e organizada. O marcador de livros alusivo à feira, ao lado, testemunha a alegria visual dos expositores. Predominavam os postais e as revistas de banda desenhada, mas também os calendários, as cintas de charutos e cigarrilhas, os cromos e pósteres publicitários. Pacotes de açúcar, infelizmente, nada. O máximo que consegui foi o contacto de um dos comerciantes, de Madrid, apenas para o caso de por lá passar... Outro comerciante revelou-me que por vezes também vendia pacotes de açúcar, mas apenas em lotes pequenos, não tendo trazido nenhum... Tornou-se evidente o lugar ocupado por esta modalidade de coleccionismo em papel na ordem de prioridades dos presentes.
Saí do NH Palácio e dirigi-me a pé, em passo de passeio, até ao casco velho da cidade, perto da zona portuária desportiva, na continuação da Plaza de Compostela. Procurava a loja de um antiquário que também negoceia artigos de colecção: Almoneda Altamira, em cujo site soube que teria alguns exemplares de pacotes de açúcar para venda. Infelizmente, o responsável pela loja não se dedicava a este apartado de coleccionismo, dispondo apenas de um lote de 400 pacotes que lhe tinham deixado para venda por 100 euros, o que é um montante exorbitante para uma compra "às cegas". O tom de voz do meu interlocutor, inversamente simpático quando comparado com o dos comerciantes presentes no Paperantic, revelava notoriamente a importância que dava a estes objectos de colecção. Felicidade a dele, loucura a nossa!
Estava a correr mal o dia... Mas não tencionava regressar de mãos a abanar; muito menos de estômago vazio. Abanquei numa esplanada frontal à Plaza de Compostela, ao longo da qual desfilavam barracas de bugigangas e artigos de artesanato; enquanto apreciava a elegante fauna local, despachei pausadamente - que contrasenso linguístico saboroso! - um bocadillo de jamón serrano, rematado com um café fraquíssimo (marca O Doñoso). Da leitura em diagonal do jornal regional Atlántico retive duas ideias: um cartoon que ironizava com a notícia de que em Espanha serão necessários, pasme-se, 200 mil novos professores até ao ano 2015 (a demonstrar que em Espanha, ao nível da educação, se trabalha a pensar no futuro); e uma nota editorial sobre a poluição brutal causada pelo fabrico de computadores portáteis, a provar que o chavão consagrado de que corporizam uma revolução tecnológica "limpa" está longe de ser verdadeiro.
Deixei passar o tempo... sob um céu acinzentado mas luminoso e uma brisa agradável; reflecti sobre a quantidade de galerias de arte e antiquários (cerca de uma dúzia num trajecto de cerca de mil metros) por que passei durante a minha caminhada pelas ruas de Vigo e antecipei um possível título para este post: Duelo Ibérico: pacotes de açúcar v. galerias de arte. Por ser sociológica e culturalmentemente polémico, acabei por decidir-me por outro mais suave.
De regresso a casa, antes de chegar a Valença, fiz um desvio para Tui, onde procurei outro antiquário que sabia negociar alguns objectos de colecção, o simpatiquíssimo Sr. José Trancoso. Mais uma vez sem sorte. Mas valeu a pena a paragem pela excelente meia hora de conversa que tive com este coleccionador de carros (não de miniaturas), rádios e máquinas fotográficas antigas (sabe-se lá onde arranja espaço para tanta maquineta!). Não me querendo deixar vir de mãos a abanar, o Sr. José fez questão de me levar ao café vizinho e de pedir pacotes de uma série espanhola com fotografias de catedrais que já lá tinha visto: mas restavam apenas dois exemplares no fundo do cestinho dos pacotes... Valeu pela simpatia.
Hora de almoço: resolvo ficar por Valença. Esperava-me o Solar do Bacalhau, que aconselho vivamente (leia-se a crónica no Viandante, aqui ao lado).
Desta meia dúzia de horas de busca infrutífera por pacotes de açúcar com real interesse para mim, três registos: cerca de 50 euros de despesa (!); pessoas maioritariamente simpáticas; e um almoço excelente. Mas também: um punto de libro e um palito para o meu amigo José Luís Salguero; um guardanapo para o amigo Romeu Lopes; palitos para os amigos Domingos Ferreira, Isabel Mendes e Adriano Monteiro; e um rótulo de vinho... um rótulo... alguém colecciona rótulos?
.
11 comentários:
Norte de Portugal e Galiza: Um Futuro Comum?
Lê e comenta.
Olá Rui!
Desde já agradeço o Palito.
Parabéns pelos textos que escreves.
Já pensaste em escreveres um livro sobre as tuas viagens?
Força.
Um abraço.
Domingos Ferreira
José Luis dijo....
¡Me alegra que te acuerdes de mi en tus viajes!.
No se me da muy bien leer el portugués, pero entiendo el significado del conjunto y me gusta leer tus aventuras de coleccionista.
Lo que siento es que en este viaje no encontraras ningún pacote que te faltase.
Pero seguro que la charla con los comerciantes y coleccionistas, te habrán compensado.
Sigue escribiendo que nos encanta leer.
Por cierto, tengo muchos guardanapos que si quieres te los envío para tu amigo Romeu.
Un abrazo desde Badajoz.
Gracias, José Luis!
Un abrazo.
¿Dependiente de Almoneda Altamira poco simpático? ¡No me lo puedo creer......!!!!!
Sofocosdelarutinadiaria.blogspot.com, post de 6 de enero de 2011 "We love vintage_Almoneda": un señor muy rancio y bastante ANTIPÁTICO con el público que se acerca a echar un vistazo a la tienda........
Tom de voz do meu interlocutor, inversamente simpático quando comparado.......Felicidade a dele, loucura a nossa....!!!
Simpatiquissimo senhor josé troncoso, túy.......
¿Café Quijano? Sem açucar....?
¿Tan simpático como si fuera salmantino?
Café Lisboa, buen café orensano.....
Enviar um comentário