sexta-feira, 18 de maio de 2007

Hostal Mirabel: uma história de doidos varridos e gente simpática

Primeira semana de Dezembro de 2006. Acabámos de passar uns dias em casa de uns amigos em Elvas e, pelas duas da tarde, prestamo-nos a efectuar os cerca de 500 quilómetros de regresso a casa. Comento com a minha esposa a hipótese de fazer um desviozito para tentar arranjar um pacote de açúcar de "exportação" que me andava a escapar. Hesitamos. Temos tempo, mas... Ainda conferenciávamos, já em viagem, à saída de Elvas, quando no momento em que tinha que virar o carro para um lado ou para o outro, decido: "vamos lá... aproveitamos e damos um passeio." Os coleccionadores são óptimos a inventar desculpas, sobretudo se encobrem um desvio que pode redundar em mais 250 quilómetros de estrada... Doidos varridos, dirão vocês.
O pacotinho em questão era, então (e agora, ainda), desconhecido da maioria dos coleccionadores portugueses. E provavelmente já estaria fora de circulação: um pacote elaborado pela Novadelta para o Hostal Mirabel, sito em Riolobos, Cáceres. Em Badajoz distraímo-nos e em vez de seguirmos directamente para Cáceres continuamos para Mérida, o que acrescentou algumas dezenas de quilómetros ao passeio. Mas o tempo estava agradável e pudemos desfrutar da paisagem. Chegámos ao Hostal Mirabel sem grande dificuldade, alguns duzentos e tantos quilómetros depois. Hora para um chá e o momento da verdade.
O estabelecimento engloba uma estação de serviço pequena e uma residencial e bar-restaurante com apresentação algo desleixada. Sentámo-nos numa das mesas e enquanto esperávamos por ser atendidos apercebo-me de que estou com azar. Os pacotes rasgados espalhados pelo chão (um hábito menos bonito dos espanhóis, especialmente no centro e sul de Espanha) não são os que procuro. São de uma série da Candelas parecida com outra que circulava em Portugal. Portanto, sem interesse para mim. Ao balcão estão dois jovens adultos com aspecto pouco cuidado mas notavelmente activos. Enquanto tomávamos o chá tento elaborar uma estratégia para abordar um dos membros do casal. Escolho o homem, aparentemente mais simpático - talvez pelo rabo de cavalo.
Na mouche! Pego no meu portátil e com o ficheiro "procuro" dos pacotes de exportação já aberto dirijo-me ao balcão. Chamo o sujeito e alerto-o para que lhe ia fazer um pedido pouco comum; explico-lhe que sou coleccionador de pacotes de açúcar, perguntando-lhe se por acaso ainda não teriam o pacote em questão, que ele reconhece pela imagem... Mala suerte! Há cerca de três anos que tinham mudado de marca de café... que lamentava, remexendo na gaveta dos pacotes por baixo da máquina de café, abanando a cabeça. Entretanto chama a mulher (aparentemente esposa) e mostra-lhe a imagem do pacote. Também acha que não... Mas acrescenta: puede que en el comedor, apontando com um gesto da cabeça para o piso superior. O homem (provavelmente o dono do estabelecimento) pede-me um momento. Enquanto atende um cliente, outro que estava sentado ao balcão e que escutara a conversa comenta comigo o curioso que é coleccionar pacotes de açúcar... que não conhecia ninguém... Explico-lhe que em Portugal há centenas de coleccionadores, e que procuram em particular os pacotes da Delta...
Entretanto, o presumível dono já sumira pelas escadas acima, tendo dado instruções à mulher para procurar na cozinha. Uns minutos depois (longos, como imaginam) chega de mãos vazias, lamentando sinceramente não poder ajudar-me. Para minha surpresa, pede-me o meu endereço, para o caso de que venha a encontrar algum lá em casa, pois por vezes metem alguns pacotes ao bolso... mas que será difícil. Agradeço-lhe e deixo-lhe a minha morada. Paguei-lhe os chás e deixei-lhe uma gorjeta equivalente, que não queria aceitar. Insisti. Despedimo-nos e regressámos ao carro, agradavelmente surpreendidos pela prestabilidade do casal. Mas fiquei, naturalmente, desiludido. Mais ainda pelos longos quilómetros que ainda nos restavam fazer, já sob uma chuva intensa e quase a escurecer.
Passaram-se mais de cinco meses. Entretanto, acabei por arranjar, por troca, 4 exemplares magníficos do dito pacote. Hoje, ao princípio da tarde, abro a caixa do correio e deparo com um envelope almofadado, pardo, com origem no Hostal Mirabel. A adrenalina disparou. Dentro vinham dois pacotes ainda cheios, ligeiramente sujos - sinal de que haviam sido encontrados por detrás de algum móvel ou maquineta. Gente simpática! É por estes episódios que vale a pena coleccionar. O "responsável" por esta viagem com açúcar é este:

2 comentários:

Anónimo disse...

Si nos hubieramos conocido antes, al pasar por Badajoz los hubieras encontrado en mi casa sin hacer tantos kilometros. Je, je..
Saludos,
José Luis Salguero

MANHENTE disse...

Hola, amigo!

Gracias por tus palabras.

Es verdad, pero si no hubiera hecho este viaje no tendría esta historia para contar. Y esa es la razón por que he creado este blog.

Un abrazo