No passado mês de Agosto saímos para mais um périplo ibérico. Destino: Andaluzia. Pelo caminho, e para aproveitar ao máximo as duas semanas de descanso, nada como tropeçar em algumas cafetarias, bares e restaurantes que me disponibilizassem mais alguns exemplares de pacotes de açúcar para a colecção. Para o que contei com toda a paciência e conivência da minha mais-que-tudo.
No final da viagem foram dezenas (entre repetidos, obviamente) os pacotes Camelo e Delta amealhados, mas houve um, em particular, cuja obtenção fez por merecer uma história neste blogue. Nada de extraordinário em si, mas que revela os perigos, as surpresas, o inusitado destas saídas à caça dos nossos bem-amados pacotinhos. Aconteceu em Guijuelo, a sul de Salamanca, na Cafetería Javi:
Chegámos ao modesto pueblo antes do meio-dia. Por azar - ou sorte -, era dia de feira, o que dificultou a procura da Javi, para não falar do estacionamento. Aproveitámos a oportunidade para um passeio por entre as tendas e mesas do mercadillo (a mais-que-tudo precisa destes mimos, caso contrário, não benificiaria da sua eterna paciência para estas lides), onde se expunha de tudo um pouco, certamente - a maior parte - de origem duvidosa. Arrematámos 4 camisetes Lacoste impecáveis por 40 euros. Nada mau para um desvio imprevisto!
A Cafetería Javi, afinal, ficava à entrada de Guijuelo, junto a uma gasolinera, informou-nos um agente da polícia local. A palavra cafetería em Espanha tem um sentido algo menos pretencioso do que o seu equivalente em português. Na verdade, não passava de um café ao lado de uma estação de serviço pequena. Ao balcão, dois amigos do dono emborcavam uma cerveja enquanto petiscavam uma qualquer tapa e trocavam com este umas graçolas inofensivas. Pedimos dois cafés, enquanto contávamos as dezenas de pacotes rasgados espalhados pelo chão, entre todo o lixo acumulável neste tipo de tascos em algumas partes de Espanha. Era ele - o pacote que procurava! Soube bem o café - e nem precisava de ser português! Escutámos durante algum tempo as tiradas dos amigalhaços, aparentemente já bem regadinhos - dono incluído.
Levantámo-nos para pagar ao balcão, tendo antes sacado de uma fotocópia que trazia com a imagem do pacote. Tencionava explicar ao Javi (presumivelmente o nome do dono do estabelecimento) que era coleccionador e que tinha ali passado de propósito em busca daquele pacote em particular e que me davam jeito alguns repetidos e que... Não foi necessária: após pedir-lhe mais alguns pacotes (o mais naturalmente possível, como se fossem para uma necessidade urgente de um familiar diabético), virou-nos costas, dirigiu-se à máquina de café, retirou a gaveta que se encontrava no móvel que a sustentava e, num abrir e fechar de olhos, despejou-a sobre o balcão e pelo chão - de tal modo que creio que, se não demos um passo atrás do susto, foi como se o tivéssemos dado em espírito. Aqui los tienes. Llevatelos todos!
Não sabia o que dizer. Parecia zangado, como se tivesse sido a milésima vez que lhe haviam feito aquele pedido (o que era muito improvável). Na realidade, creio que foi o estado enlevado em que já se encontrava que o fez ter aquela atitude. E constatei-o quando, tentando amenizar o momento, lhe estendi a imagem do pacote e lhe disse que era conhecido de muitos coleccionadores em Portugal. Mostrei-lhe também o catálogo de pacotes de Marcas de Café Portuguesas Internacionalizadas, em que já tinha incluído o Javi. Foi uma festa! Chamou a mulher que estava na cozinha, aparentemente sua companheira: mira, mira... el sobre ya lo conocen en Portugal! Perguntou-me se precisava de mais, depois de os termos recolhido e apanhado pacientemente. Respondi-lhe que eram mais do que suficientes. Que muito obrigado. Que foi muito simpático da sua parte, e tal. Despedimo-nos. Os amigos disseram-nos adeus, ainda espantados pelo sucedido e decerto a rirem-se interiormente da tonteria que é coleccionar pacotes de açúcar. Não imaginariam a alegria com que saímos. Objectivo atingido x 54. 54 pacotes! E um não sei quê de frisson - que é o alimento favorito de qualquer coleccionador.
Obrigado, Javi!
1 comentário:
¡Qué suerte la tuya, 54 pacotes!.
El día que yo pasé. debía haber tomado menos cerveza y tan sólo conseguí 10.
Te has olvidado relatar algo sobre la decoración del bar. Mi mujer, creo que no volverá a entrar en ese establecimiento debido a lo que había en las cuatro paredes del interior.
Estaba decorado con banderas, cuadros y fotofrafías alusivas a nuestra pasada disctadura y al represesor Francisco Franco.
Era como estar en el pasado, viviendo las atrocidades de una dictadura que orpimió al pueblo español. Algo para no recordar.
Esa es una de las grandes diferencias entre una dictadura y una democracia, en la que se puede expresar libremente la ideología de cada uno y la del señor Javi está más que clara.
Un abrazo,
José luis
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