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O presente manifesto surge da minha obrigação como coleccionador de contribuir para a elaboração de uma definição exacta do que é o objecto coleccionável denominado pacote de açúcar, numa altura em que surgem milhares de objectos semelhantes que com ele se confundem. Parte deste texto foi já partilhado numa mailing list dedicada a este campo de coleccionismo.
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Como qualquer outro objecto, um pacote de açúcar tem necessariamente uma função: primeiro que tudo, a de adoçar uma bebida (ou, menos frequentemente, um preparado culinário); em segundo lugar, quase sempre, serve também de veículo publicitário, respondendo a uma intenção genuína de uma qualquer entidade ou entidades. Para que a sua função seja levada a cabo, o pacote de açúcar tem de circular, de ser disponibilizado ao público.
Não é relevante quem cria, imprime, embala, promove ou distribui o pacote de açúcar (a não ser para quem, como coleccionador, privilegie este ou aquele parâmetro), mas sim que ele desempenhe a função para que foi criado, só assim fazendo jus ao seu nome.
Nos últimos anos, em particular em países como a Itália, a República Checa e a Espanha, e mais recentemente em Portugal, têm surgido milhares de objectos semelhantes a pacotes de açúcar, quase exclusivamente na forma de séries, ou colecções, que são produzidos de per se, isto é, sem qualquer função, muito menos a acima descrita, e promovidos frequentemente por agentes próximos do coleccionismo de pacotes de açúcar. Objectos destituídos de função, por muito criativos ou tecnologicamente avançados que sejam; poderão ser tudo, não são de certeza pacotes de açúcar, mesmo que por conveniência sejam embalados com a doce substância (muitos já nem isso o são). Fazem lembrar as notas do Monopólio, com um carácter figurativo, fictício; mas, e isto é que é grave, têm sido utilizados com um valor transaccionável real.
Tudo é transaccionável quando tem procura - e este é que é o verdadeiro problema: quando as pessoas não são capazes de reflectir sobre o objecto que têm nas mãos, arriscam-se a que, quando olhem para elas com mais atenção, não vejam nada. Pelo menos que não vejam o objecto a que se supõe tenham atribuído um valor estimativo que os tenha conduzido ao acto de coleccionar.
Porque é disto que falamos: só se colecciona quando se tem estima pelo objecto coleccionado. E essa estima tem sempre origem num qualquer episódio da nossa vida, por mais insignificante que seja. Convido-vos e realizarem este exercício de imaginação: o primeiro coleccionador de pacotes de açúcar - quem terá sido? Nunca o saberemos, certamente. Mas o que o terá levado a coleccionar pacotes de açúcar? Terá certamente achado graça ao objecto que acompanhava a sua bebida preferida, à história que contava ou ao motivo que exibia. Teria ele achado tanta graça (a suficiente para despertar a paixão pelo seu coleccionismo) a esse mesmo pacote de açúcar, por muito belo ou interessante que fosse, se não viesse acompanhado da sua bebida preferida?
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