domingo, 27 de maio de 2007

Brio Profissional

O ano passado, creio que numa segunda-feira de Primavera, quando saía da escola após mais um dia de trabalho, a funcionária de serviço na portaria chamou-me. O meu colega Eugénio tinha-lhe deixado uma coisa para me entregar, pois tinha-me procurado mas não me tinha visto. Ora aí vêm mais uns pacotinhos, disse para os meus botões, expectante. O Eugénio tinha-me dito que iria passar o fim-de-semana à Galiza e que me traria os exemplares que pudesse apanhar.
Afinal era apenas um - e chegava-me às mãos com esta particularidade extraordinária: tal como um passaporte, recebera um carimbo de trânsito na portaria da Escola Secundária/3 de Ponte da Barca. Irrepreensível! Tanto, que nem quero imaginar o que teria passado pela cabeça da prestável e eficiente senhora:

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Hostal Mirabel: uma história de doidos varridos e gente simpática

Primeira semana de Dezembro de 2006. Acabámos de passar uns dias em casa de uns amigos em Elvas e, pelas duas da tarde, prestamo-nos a efectuar os cerca de 500 quilómetros de regresso a casa. Comento com a minha esposa a hipótese de fazer um desviozito para tentar arranjar um pacote de açúcar de "exportação" que me andava a escapar. Hesitamos. Temos tempo, mas... Ainda conferenciávamos, já em viagem, à saída de Elvas, quando no momento em que tinha que virar o carro para um lado ou para o outro, decido: "vamos lá... aproveitamos e damos um passeio." Os coleccionadores são óptimos a inventar desculpas, sobretudo se encobrem um desvio que pode redundar em mais 250 quilómetros de estrada... Doidos varridos, dirão vocês.
O pacotinho em questão era, então (e agora, ainda), desconhecido da maioria dos coleccionadores portugueses. E provavelmente já estaria fora de circulação: um pacote elaborado pela Novadelta para o Hostal Mirabel, sito em Riolobos, Cáceres. Em Badajoz distraímo-nos e em vez de seguirmos directamente para Cáceres continuamos para Mérida, o que acrescentou algumas dezenas de quilómetros ao passeio. Mas o tempo estava agradável e pudemos desfrutar da paisagem. Chegámos ao Hostal Mirabel sem grande dificuldade, alguns duzentos e tantos quilómetros depois. Hora para um chá e o momento da verdade.
O estabelecimento engloba uma estação de serviço pequena e uma residencial e bar-restaurante com apresentação algo desleixada. Sentámo-nos numa das mesas e enquanto esperávamos por ser atendidos apercebo-me de que estou com azar. Os pacotes rasgados espalhados pelo chão (um hábito menos bonito dos espanhóis, especialmente no centro e sul de Espanha) não são os que procuro. São de uma série da Candelas parecida com outra que circulava em Portugal. Portanto, sem interesse para mim. Ao balcão estão dois jovens adultos com aspecto pouco cuidado mas notavelmente activos. Enquanto tomávamos o chá tento elaborar uma estratégia para abordar um dos membros do casal. Escolho o homem, aparentemente mais simpático - talvez pelo rabo de cavalo.
Na mouche! Pego no meu portátil e com o ficheiro "procuro" dos pacotes de exportação já aberto dirijo-me ao balcão. Chamo o sujeito e alerto-o para que lhe ia fazer um pedido pouco comum; explico-lhe que sou coleccionador de pacotes de açúcar, perguntando-lhe se por acaso ainda não teriam o pacote em questão, que ele reconhece pela imagem... Mala suerte! Há cerca de três anos que tinham mudado de marca de café... que lamentava, remexendo na gaveta dos pacotes por baixo da máquina de café, abanando a cabeça. Entretanto chama a mulher (aparentemente esposa) e mostra-lhe a imagem do pacote. Também acha que não... Mas acrescenta: puede que en el comedor, apontando com um gesto da cabeça para o piso superior. O homem (provavelmente o dono do estabelecimento) pede-me um momento. Enquanto atende um cliente, outro que estava sentado ao balcão e que escutara a conversa comenta comigo o curioso que é coleccionar pacotes de açúcar... que não conhecia ninguém... Explico-lhe que em Portugal há centenas de coleccionadores, e que procuram em particular os pacotes da Delta...
Entretanto, o presumível dono já sumira pelas escadas acima, tendo dado instruções à mulher para procurar na cozinha. Uns minutos depois (longos, como imaginam) chega de mãos vazias, lamentando sinceramente não poder ajudar-me. Para minha surpresa, pede-me o meu endereço, para o caso de que venha a encontrar algum lá em casa, pois por vezes metem alguns pacotes ao bolso... mas que será difícil. Agradeço-lhe e deixo-lhe a minha morada. Paguei-lhe os chás e deixei-lhe uma gorjeta equivalente, que não queria aceitar. Insisti. Despedimo-nos e regressámos ao carro, agradavelmente surpreendidos pela prestabilidade do casal. Mas fiquei, naturalmente, desiludido. Mais ainda pelos longos quilómetros que ainda nos restavam fazer, já sob uma chuva intensa e quase a escurecer.
Passaram-se mais de cinco meses. Entretanto, acabei por arranjar, por troca, 4 exemplares magníficos do dito pacote. Hoje, ao princípio da tarde, abro a caixa do correio e deparo com um envelope almofadado, pardo, com origem no Hostal Mirabel. A adrenalina disparou. Dentro vinham dois pacotes ainda cheios, ligeiramente sujos - sinal de que haviam sido encontrados por detrás de algum móvel ou maquineta. Gente simpática! É por estes episódios que vale a pena coleccionar. O "responsável" por esta viagem com açúcar é este:

sábado, 12 de maio de 2007

E se o seu café vier com um especialista?

Prepare-se, pois um dia destes pode ser surpreendido ao tomar o seu café. E se tiver um pouco de azar, ter ainda necessidade de gastar algumas dezenas de euros com que não contava. Aqui tem dois dos malandros, um deles alemão - já traduzido para não se sentir ainda mais perdido. Boa sorte!


O teste de visão
mais doce do mundo.
Mantenha este pacote de açúcar
a uma distância de cerca de 30 centímetros dos seus olhos.
No caso de não conseguir ler estes caracteres, aproveite este pacote como
vale-desconto para um teste de visão na
Optic Bremer

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segunda-feira, 7 de maio de 2007

Una Flor para Elvira

6 de Agosto de 2006. Barcelona. Após uma visita ao lindíssimo Parc Güel e um rápido telefonema à Elvira, combinamos encontrar-nos no Café Zurich, na Plaça de Catalunya. A Elvira Camacho é uma coleccionadora catalã com quem efectuava trocas há alguns meses. Tendo planeado uma passagem por Barcelona, logo agendámos um encontro para nos conhecermos pessoalmente. À hora aprazada, lá nos encontrámos, cada um com a sua "lembrança": um envelope cheio de pacotes de açúcar, cuja cor servia também para nos identificarmos na imensa esplanada do Café Zurich. Foi ela quem me viu em primeiro lugar. Estava acompanhada de duas amigas, a quem nos juntámos para um café.
Passados os primeiros momentos de impasse nestas situações, fez-se notar o sentimento patriótico da Elvira, quando disse ao empregado de mesa que queria uma Mahou (das poucas cervejas espanholas que me agradam). Una Mahou?!!!, exclamou. Não tendo sido um ultraje, foi notoriamente um passo em falso no escorregadio mundo da etiqueta. Fiquei a saber que a saborosa Mahou é uma cerveja madrilena!!! E também que não a serviam ali, pelo que me contentei com a razoável San Miguel, uma cerveja originária de Lérida - portanto, catalã. Por ironia, uma consulta rápida no google revelou-me que a marca já havia sido adquirida pelo grupo Mahou em 2000. Mas num mundo globalizado como o nosso, isso são pormenores. Portanto, San Miguel e ponto final. E soube bem. O que acontece sempre quando a companhia é boa! A conversa de quase duas horas resvalou para todos os temas possíveis (do Futbol Club Barcelona à problemática da emigração), sendo a defesa da cultura catalã uma pedra de toque permanente nas intervenções da Elvira e das amigas. E o engraçado é que viemos a saber no final dessa tarde que a Elvira era originária do sul de Espanha, da região de Cádiz, estando radicada na Catalunha há bastante tempo - o suficiente para se lhe ter entranhado no sangue. Para dizer a verdade, é difícil Barcelona e a Catalunha não tocarem quem quer que passe por lá.
Despedimo-nos nas Ramblas, entre correntes de gente a caminho do final de tarde e da movida. Até um dia destes - porque coleccionar também é conviver.
Nota: o stick de açúcar que introduz este texto foi recolhido no Café Zurich.